quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sobre não te tornar poema


Fotografia  de 
Sylmara Durans por Carlos André.




No meu oficio de ourives:
minha labuta e profissão de fé:
lapido os versos conforme o inquietante(admirável)
adormecido sobre qualquer cousa.

E sei pela experiência de tanto sentir,
quão laborioso seria registrar o crepúsculo,
registrar as parábolas da maré;
descrever o derradeiro brilho e
o desvanecer das sombras.

Sim, muita incumbência e peso.
Demandaria toda cautela e maturidade,
mas ainda sim caminharia.
                   [Sem garantia de de terminar a composição.

E essas são apenas as cousas fantásticas e acontecimentos maravilhosos.
Que transfiguradas e arrastadas para folha
se apresentam emoções quase inomináveis.

O que dizer, então, de ti ?
Impossível será,
mesmo que algum dia
eu terminasse de tecer todo proscênio e todo cenário ao teu redor,
                   [A parte simples.]
versificar teu corpo.

Pois nem com cabedal das mais ricas palavras,
o mundo vocabular e infinitas máximas reflexivas
sobre beleza e existência;
eu sairia do teus pés.

domingo, 7 de setembro de 2014

Plano B(Uma outra linguagem)



Fotografia por Giovanna Casagrande





Plano B(Uma outra linguagem)
Às vezes, quase sempre às vezes minha lente captura o invisível. [Invisível pro mundo que não para. Meus tímpanos sentem o vibrar de gritos mudos, [Mudos pro mundo que não para. São os riscos cifras palavras,
quadradas, figuradas, que não nos ganham, que não agradam. Nos cortam ,nos incomodam sem sabermos. As quais nos golpeiam 
com pontapés puxões.
Os quais tentam nos lembrar que não somos sós. Nos lembrar da existência dos milhões de uns.
[ Alusão Joãozinho Ribeiro.

N'outro tempo

                                  fotografia por  Lucas Palavra 



N'outro tempo


Um som retro,
uma pedra.
      [ José, Quadrilha, Sete faces.

Melodias,
notas,
sons de Alucinação.
          [1976.

Um cantor torto,
de letras cortantes,
cantarolando
um cara todo retorcido.

sábado, 6 de setembro de 2014

Instante na lareira

Fotografia "Interior da lareira" do álbum "O Cotidiano abstrato", por Giovanna Casagrande.


Instante na lareira

De frente pra ela, 
na lareira, 
era/tinha.
Eu vi!

Na lareira,
era madeira,
carta,
conto.
Agora só canto.

Mas vi !
Mas tinha!
Eu joguei !

Na lareia era amor,lembrança,
foto,filme, fato...

É lareira de frente pra mim.
Nela havia algo.
Fez-se calor.
Fez-se fumaça.
Nela havia !

Agora apenas uma lareira,
um canto.

Lá só cinzas.
Vestígios Sós.
Só marcas,
rastros de fagulhas.

Foi, era...
O instante aconteceu.
De frente, eu vi na lareira.


Arquiteto

Fotografia Danilo Palavra



Arquiteto

Entro no cotidiano das coisas.
Paro.
Me torno coiso.

Não sou mais o centro.
Estou ao redor de outrem.

Aquieto-me.
Sou um objeto.
Uma parede,
um pallet,
uma lata.

Mais um corpo.

E no quieto,
entendo o espaço,
as formas, os traços.

Assim, não erro o desenho,
o plano
o lugar,
a altura e o ambiente.

Assim, no quieto
faço natureza morta,

Assim arquiteto.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Bela feia






Bela feia

Linda, pois é
fé menina.
Desejada, pois é costela
minha.

Mas pra mim não é.
Pra mim tu és bela feia.

É, até, um formoso pote,
delineado, curvilíneo.

É um violão,
polido, brilhante.

É bela, mas é feia.

Pois tens a igual beleza
d'um púcaro, d'uma caneca.
A vasilha mais bonita pra enfeite.

Mas vazia.
E vazio é feio.

Se's












Se's

Se tens beleza, 
meu olhos te seguirão.

Se tua carne for farta,
a minha pulsará.

Só, somente só.

Se confabulares com postura,
ganhará um ouvinte.

Se caminhar à luz do entendimento,
te acompanharei.

Se escapulir literatura ou uma poesia;
[Meu Deus, uma poesia !
O que será de mim ?

Se cantarolar Cardosos, Azevedos, Alceus, Buarques et coetera;
me perderei mais e mais,
até te amar.